Não haverá paz sem que haja justiça. Antes da bem-aventurança destinada aos pacificadores, encontramos a bem-aventurança dos que têm fome e sede de justiça (Mt 5:6,9). É o conflito gerado pela fome de justiça que demanda a ação do pacificador. E como age o pacificador? Negociando uma trégua? Não! O pacificador não é aquele que desqualifica o clamor dos injustiçados, mas que o justifica.
A luta de Malcolm X não foi menos honrosa do que a de Martin Luther King Jr. Apesar de propostas diferentes, eles lutaram na mesma trincheira pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Porém, Malcolm X, que defendia o uso da violência na luta por justiça, não enxergava do mesmo prisma que Luther King que era um pacifista. Ambos desempenharam importantes papéis na liderança da comunidade negra norte-americana.
A fome de justiça deve ser proporcional ao desejo de paz. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos meros justiceiros com sede de vingança. Da mesma forma, não podemos pautar pela paz abrindo mão da justiça. Direitos não podem ser negociados, mas plenamente desfrutados. Todavia, não havendo a clara disposição do opressor em reconhecê-los, o oprimido não terá alternativa senão lutar para conquistá-los. Esta luta é legítima. Descredenciar quem luta por direitos é atentar contra a sua dignidade intrínseca e, por conseguinte, tocar na glória de quem o criou.
O pacificador não lança querosene na fogueira, todavia, também não apaga o pavio que fumega, nem esmaga a cana já envergada, “até que faça triunfar a justiça” (Mt 12:20). Ainda que não seja a sua voz nas ruas, ele não invalidará suas reivindicações, pois compreende a sua legitimidade. O grito que ecoa nas avenidas, ele fará ecoar nos corredores do poder, incendiando a consciência dos poderosos e tirando-lhes o sono.
Assistindo às manifestações populares, tanto nos EUA por conta do assassinato de George Floyd, quanto no Brasil pela democracia, sou tomado pela mesma sensação de Cristo que “vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9:36). O mundo carece de pastores! Gente que agregue esperanças. Que denuncie a pretensão dos que se locupletam da ingenuidade das classes desfavorecidas. O mundo já está farto de profetas palacianos, que, inescrupulosamente, usam sua influência no púlpito e nas redes sociais para manter seu povo refém da ignorância e da manipulação de seus dominadores. Como bem denunciou Jeremias: “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr 6:13,14).
Oro para que Deus levante nesses dias homens e mulheres do quilate de Luther King e Rosa Parks para peitar o opressor e oferecer esperança aos oprimidos.
[via blog de Hermes C. Fernandes]
Confira estas declarações:
"Desejai a plenitude da graça de Cristo; sim, tende 'fome e sede de justiça'. A promessa é: 'Serão fartos' (Mateus 5:6). Permiti que vosso coração seja repleto com um intenso anelo por essa justiça cuja obra Deus declara em Sua Palavra ser paz, e seu efeito, mansidão e segurança para sempre" (Ellen G. White - Olhando para o Alto, p. 314).
"Os que têm fome e sede de justiça serão fartos, pois Jesus o prometeu. Precioso Salvador! Seus braços estão abertos para receber-nos, e Seu grande coração de amor está à espera para nos abençoar" (Idem - Conselhos para a Igreja, p. 47).
"O sentimento da própria indignidade levará o coração a ter fome e sede de justiça, e esse desejo não será decepcionado. Os que dão lugar a Jesus no coração, compreender-Lhe-ão o amor. Todos quantos anseiam ter semelhança de caráter com Deus, serão satisfeitos” (Idem - O Desejado de Todas as Nações, p. 302).
"Os que têm fome e sede de justiça são os que, por ansiarem ver o triunfo final de Deus sobre o mal e o seu reino plenamente estabelecido, anseiam também por fazer eles próprios os que são justos e retos. Todos estes tem a crescente satisfação de saber que estão avançando e não bloqueando os propósitos de Deus" (CBASD, vol. 5, p. 317).